O tal Aedes. De novo.
- 15 de jun. de 2016
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Dois centímetros. Uma medida mais do que suficiente para alastrar pânico de um extremo ao outro do nosso país. Considerada pela Agência Mundial de Controle e Prevenção de Doenças como a espécie de mosquito mais difundida e adaptável do planeta, o Aedes Aegypti volta a desestabilizar a saúde pública brasileira ao tornar-se o principal vetor de contágio do Zika Vírus.

Carregando um nome que significa “odioso” em egípcio, o Aedes Aegypti surgiu nas regiões silvestres africanas, nos quais registrou-se os primeiros indícios de doenças transmitidas pelo mosquito, com contágios de febre amarela. Com a vinda dos navios negreiros durante a era colonial, o mosquito foi importado e desenvolveu uma grande capacidade de adaptar-se ao convívio com seres humanos.
Ao contrário de semelhantes, como o Anopheles (vetor da malária e que ataca apenas durante a noite), o Aedes não se importa em perambular entre o homem e nem de picar suas vitimas em meio à claridade. Além disso, o mosquito adaptou-se rapidamente às suas necessidade de procriação, se reproduzindo em diversos locais, por menores que sejam, como numa tampinha de garrafa. Durante a fase de procriação, sua resistência e capacidade de adaptação aos ambientes desfavoráveis é outro fator de risco. Para se ter uma ideia, apesar de depender do acumulo de água para procriar, os ovos botados pela fêmea podem ficar inertes em local seco por até um ano até terem contato novamente com água e desenvolverem-se rapidamente, em menos de uma semana.
Com estas características e com a chegada do verão às regiões tropicais e subtropicais – quando chuvas são mais recorrentes e facilitam o acumulo de água –, o Aedes Aegypti tem o cenário perfeito para procriar em ritmo acelerado. E com isso, os diversos vírus que encontram uma simbiose perfeita com o inseto se espalham e são transmitidos em escala exponencial.
Apesar da dificuldade de exterminá-lo, a solução é possível, como já foi feito no Brasil durante a década de 50, quando o epidemiologista Oswaldo Cruz comandou uma campanha eficiente contra a febre amarela e resultou com atestado da OMS de país livre do mosquito. Entretanto, com a falta de cuidados nos países vizinhos, o Aedes acabou retornando e crescendo sua população em terras brasileiras. Hoje acredita-se não ser possível erradicá-lo do país; porém, através de campanhas, mobilização da sociedade e cuidados preventivos é possível reduzir consideravelmente os riscos oferecidos.
A principal medida, como altamente propagada nas últimas décadas, ainda é evitar o acumulo de água. Estima-se que mais de 80% dos criadouros estão presentes em áreas residenciais, o que evidencia a necessidade do combate caseiro ao vilão. Os inseticidas, especialmente os “fumacês”, têm-se mostrado pouco eficientes, já que para surtir efeito é necessário que os componentes químicos entrem embaixo da asa do mosquito – ou seja, funcionam apenas durante o voo do Aedes, sendo que ele permanece a maior parte do tempo em repouso. A quantidade de inseticidas ineficientes utilizados apenas tem criado insetos mais resistentes e com ainda mais capacidade de adaptação.
Uma das apostas e esperança no controle do mosquito vem da empresa inglesa Oxitec, que desenvolve o projeto Aedes Aegypti do Bem, o qual cria mosquitos machos transgênicos para procriarem com fêmeas comuns, gerando larvas que morrem antes de chegarem a fase adulta. Testes recentes realizados na cidade de Piracicaba, São Paulo, mostraram resultados animadores, onde mais de 60% dos ovos não resultaram em mosquitos adultos.

Se a Dengue é uma velha conhecida dos brasileiros, o Zika Vírus segue coberta de incógnitas. Identificado pela primeira vez no Brasil em abril de 2015, a doença muitas vezes é assintomática, sendo que 80% das pessoas infectadas não desenvolvem manifestações clinicas. Seus principais sintomas são dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos. Outros sintomas, menos frequentes, são inchaço no corpo, dor de garganta, tosse e vômitos. No geral, a evolução da doença é benigna e os sintomas desaparecem espontaneamente entre três e sete dias. No entanto, a dor nas articulações pode persistir por mais de um mês. Formas graves e atípicas são raras, mas quando ocorrem podem, excepcionalmente, evoluir para óbito, como identificado no mês de novembro de 2015.
Outro ponto que vem assustando a população é a relação do vírus com a microcefalia, uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Apesar dos estudos serem recentes e de sobrarem dúvidas sobre diversas questões, como a atuação do vírus no organismo, a vulnerabilidade das gestantes e a desenvolvimento da infecção no feto, o Ministério da Saúde confirmou a relação entre o Zika e a microcefalia. O Instituto Evandro Chagas, órgão do ministério em Belém (PA), encaminhou exames realizados em um bebê microcefálico que mostraram a presença do vírus em amostras de sangue e tecido. As análises iniciais também apontam que os riscos estão associados aos três primeiros meses de gestação.
Já a Febre Chikungunya é uma doença que tem como principais sintomas febre alta de início rápido, dores intensas nas articulações dos pés e mãos, além de dedos, tornozelos e pulsos. Pode ocorrer ainda dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele. Vale salientar que não é possível ter Chikungunya mais de uma vez, pois depois de infectado, o paciente fica imune pelo resto da vida.

Se por um lado o risco oferecido pelo Aedes Aegypti tem sido triplicado, por outro, pode-se combater as três doenças de uma única vez com medidas simples e efetivas. Seja em casa ou em sua comunidade, deve-se sempre impedir o acumulo de água, por menor que seja o depósito de armazenamento, impedindo a formação de criadouros.
Também recomenda-se o uso de roupas que minimizem a exposição da pele ao mosquito, especialmente nos horários de risco (início da manhã e final da tarde) e por gestantes, crianças e idosos. E, caso apresente quaisquer sintomas que evidenciem a possibilidade de uma das três doenças, a pessoa deve procurar imediatamente um posto de saúde para o diagnostico e possíveis tratamentos.
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