Cólera: a doença que se espalha como água
- Redação
- 23 de jun. de 2016
- 3 min de leitura
Vibrio Cholerae é o nome do novo vilão que deixa a saúde pública do Distrito Federal em alerta. Pela primeira vez na história, a bactéria transmissora da cólera foi identificada no DF, através de coleta realizada em uma das estações de tratamento da Companhia de Saneamento Ambiental, na Asa Norte. Apesar da Secretaria de Saúde ainda não ter registrado nenhum caso da doença, um alerta foi emitido para todos os hospitais da rede e a CAESB reforçou seus testes para identificação da bactéria.

A incidência de cólera no Brasil teve seu ápice em 1993, quando um surto da doença registrou mais de 60 mil casos, com 670 mortes. Através de medidas de saneamento básico e do controle de qualidade da água, especialmente no Norte e Nordeste, o país conseguiu reduzir significativamente a transmissão da doença nos anos posteriores, chegando a zero óbitos em 2001.
Há nove anos não existe nenhum registro da doença no Distrito Federal – além disso, todos os casos diagnosticados em sua história foram importados de outras unidades da federação ou do exterior. Recentemente, porém, o micro-organismo causador da doença foi identificado em águas brasilienses, através de coleta realizada pelo Programa de Qualidade da Água, que monitora as 14 estações de tratamento de esgoto e faz testes específicos para o Vibrio Cholerae desde 2013.
O Vibrio Cholerae é a bactéria responsável por causar a infecção da cólera, ao liberar uma toxina conhecida como CTX, que se liga às paredes intestinais e interfere no fluxo normal de sódio e cloreto do organismo. Esta alteração desencadeia uma grande secreção de água, levando a diarreia e perda rápida de sais minerais.
A transmissão de cólera se dá, principalmente, por meio de água e alimentos contaminados pelas fezes ou pela manipulação de alimentos por pessoas infectadas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, todos os anos são registrados entre três e cinco milhões de novos casos da doença no mundo, que ocasionam mais de 100 mil mortes anuais, especialmente em países subdesenvolvidos da África, Sudeste Asiático e América Central.
A maioria das pessoas expostas à bactéria da cólera não manifesta nenhum sintoma, sendo que nove entre dez casos da doença são assintomáticos. Entretanto, mesmo sem apresentar sintomas típicos da doença, o paciente pode infectar um terceiro, já que a bactéria continua sendo excretada por até duas semanas após o contágio.
Em casos sintomáticos, o principal sinal é a diarreia, o que faz ser facilmente confundida com outros problemas de saúde. Outra consequência é a desidratação rápida, que leva ao desequilíbrio eletrolítico e pode, em alguns casos, ocasionar a morte do paciente em poucas horas.
A principal forma de tratamento da cólera é através da reidratação, que visa repor os líquidos e eletrólitos perdidos utilizando uma solução simples de sais para reidratar os pacientes, conhecida como SRO. Quando disponível, este tratamento é capaz de reduzir para menos de 1% o número de mortes pela doença. Em casos mais graves e cenários epidêmicos, a reidratação se dá através de fluídos intravenosos. Apesar do uso pouco comum, alguns antibióticos contribuem para redução da diarreia, mas vale ressaltar que é contraindicada a automedicação, sendo que este tipo de medicamento deve ser prescrito apenas por médicos.
Com a identificação da bactéria nas águas brasilienses, vale redobrar a prevenção: lave frequentemente as mãos com água e sabão, especialmente depois de usar o banheiro ou antes de manipular alimentos; sempre que possível, desinfete as mãos com álcool; beba água potável, preferencialmente engarrafada; alimente-se com comidas cozidas e quentes, evitando alimentos crus, como peixes e mariscos; fique atento a frutas e legumes que vocês mesmo pode preparar ou descascar, tais como banana, laranja e abacates.
Apesar de pouco recomendado pelo Ministério da Saúde, existem vacinas disponíveis para cólera no sistema privado de saúde. Por terem curta duração são indicadas apenas às pessoas que irão viajar para locais com grande incidência da doença. Fique atento aos sinais da cólera e, caso perceba qualquer sintoma da doença, especialmente diarreias severas, procure imediatamente um médico – de preferência, um infectologista – ou posto de saúde próximo à sua residência.
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