Sejamos + naturais
- Redação
- 2 de ago. de 2016
- 3 min de leitura
Mais invasivo, com maiores riscos e índice de mortalidade bem superior ao do parto normal, a cesárea é um procedimento cirúrgico que deve ser evitado. Mas, apesar de a Organização Mundial da Saúde recomendar que apenas 15% dos partos sejam cesarianas, as brasileiras escolhem esta opção em 52% dos nascimentos. Considerando apenas a rede privada, o número chega à 88%, de acordo com a Fiocruz.

A cesariana, como você sabe, é uma intervenção cirúrgica no útero para extrair o feto. É uma técnica que salva vidas todos os dias e seu desenvolvimento foi uma grande conquista da medicina. Originalmente, a cesárea deveria ser indicada apenas em situações delicadas, onde o risco para a mãe ou bebê não permitisse deixar a natureza agir por si. E, de preferência, a decisão pela cirurgia deveria ser tomada já com o trabalho de parto iniciado. Mas o que estamos vivendo no Brasil é uma epidemia de cesarianas pré-agendadas. E o resultado é uma população de bebês nascidos antes da hora com todas as complicações que a prematuridade oferece, assim como um grande número de mães frustradas com a experiência do parto.
Claro que existem mulheres que, por opção própria, desejam fazer a cesariana e não cabe julgá-las, independente de suas motivações. Em outras situações, é necessário optar pela técnica para garantir a saúde da mãe e da filho, como em casos da ruptura uterina, posicionamento errado do bebê e deslocamento precoce da placenta. Porém, não deve-se colocar a cirurgia como um procedimento padrão ou opção principal.
O grande problema é que, para os hospitais, a imprevisibilidade dos partos normais é mais complexa de administrar e, portanto, menos interessante de atender. Na cesariana é possível estimar quanto tempo levará até a sala de cirurgia ser liberada para outro procedimento. Assim, pode-se delimitar o número de nascimentos que vão acontecer em cada turno do expediente. Os médicos, mesmo sabendo que o parto normal é seguro e bom para mãe e filho, se acostumaram a recomendar a cesárea já desde o pré-natal. E talvez, principalmente, porque na universidade aprenderam a realizar partos de uma maneira invasiva e ultrapassada e, frente a essa opção, consideram a cesariana menos arriscada.

Para as mães, não faltam opções de partos naturais que melhoram a experiência do nascimento e tornem agradável este momento tão marcante. Um modelo que ganha força dia após dias no mundo é o parto humanizado. Neste formato, não existem regras, mas sim um princípio: respeitar as necessidades e as escolhas da mulher e do bebê. Durante o parto humanizado, diversas técnicas podem auxiliar no conforto da grávida, como massagens e acupunturas. Ao nascer, a criança é levada à um quarto escuro, aquecido e com a menor quantidade de pessoas e estímulos sensórias possíveis para não agredi-lo. E, o principal, é imediatamente colocado junto à sua mãe.
Vale ressaltar que humanizado não quer dizer domiciliar. A mãe é quem deve escolher o melhor local para o nascimento, podendo ser em casa, hospitais capacitados ou casas de parto. No parto humanizado, é comum a presença da doula, uma pessoa responsável por indicar formas de aliviar as dores e também garantir um maior suporte emocional para a gestante e o pai da criança. Apesar da presença dessa pessoa ser muito importante para algumas gestantes, não são todas as maternidades que permitem a sua entrada. Outro ponto importante diz respeito à presença de médicos, que, apesar de pouco intervirem, garantem um parto seguro e sem complicações.
Para estancar a epidemia, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) possui uma resolução estimulando o parto normal na rede privada. Com isso, as mulheres podem solicitar previamente os percentuais de cesarianas realizadas pela instituição. Os médicos também devem preencher um relatório completo, da entrada ao parto, indicando os procedimentos realizados e justificando possíveis intervenções cirúrgicas. A intenção é mudar este cenário e acabar com o medo em relação aos partos normais.
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